A ALQUIMIA INTERIOR DO INICIADO
DO LIVRO "SIMBOLOS DA ALMA": CAPÍTULO 4 = A ALQUIMIA INTERIOR DO INICIADO
A Maçonaria é uma escola simbólica que, à semelhança da Alquimia antiga, propõe a transmutação do ser. Não se trata de transformar chumbo em ouro literal, mas de realizar uma obra interior: transformar o ego fragmentado em um eu mais consciente, ético e integrado. O templo é o espaço simbólico onde essa alquimia acontece, e cada etapa da jornada iniciática é um estágio dessa operação da alma.
Na Alquimia, as fases da obra — nigredo, albedo, rubedo — correspondem a processos psíquicos profundos: mergulhar na sombra, purificar as intenções, e integrar luz e trevas numa nova totalidade. Do ponto de vista psicológico, isso é equivalente ao processo de individuação descrito por Jung: tornar-se quem se é em essência, reconhecendo e acolhendo os opostos internos.
Os quatro elementos — Terra, Água, Ar e Fogo — representam as forças fundamentais da natureza e da psique. Cada um tem uma correspondência simbólica na Maçonaria e na jornada humana:
- A Terra é o símbolo da estabilidade e da matéria. É o alicerce onde o templo se ergue. Em nós, representa a concretude da vida, as bases afetivas e morais que sustentam o crescimento
- A Água expressa a emoção, a fluidez, o inconsciente. Representa o luto, a entrega, a escuta do que escorre por entre as palavras. No rito iniciático, a água purifica e consagra
- O Ar simboliza o pensamento, a inspiração, a palavra justa. Está presente nas janelas do templo, que devem estar abertas à luz e à circulação de ideias
- O Fogo é o impulso transformador. É a vontade, a paixão que move, o espírito que purifica e ilumina. Está no centro do altar, nas velas e na centelha do coração.
Esses quatro elementos não são apenas conceitos antigos: são dinâmicas vivas que, quando desequilibradas, adoecem o ser; quando harmonizadas, o tornam pleno. O iniciado é aquele que, ao reconhecer esses elementos em si, aprende a manejá-los com sabedoria.
Na linguagem simbólica da Maçonaria, a pedra bruta representa a Terra; o silêncio, a Água; a palavra sagrada, o Ar; e a luz recebida, o Fogo. O templo não é apenas um lugar externo: é a metáfora da alma em construção. Cada coluna, cada ferramenta, cada passo, corresponde a um gesto alquímico. Não se constrói o templo sem fogo, nem se lapida a alma sem terra.
Ao integrar esses elementos, o iniciado realiza uma alquimia de si mesmo. Ele não busca perfeição, mas inteireza. Não foge da sombra, mas dialoga com ela. E ao caminhar nessa senda, torna-se menos reativo, mais presente, mais comprometido com a verdade interior.
A Alquimia Interior do iniciado não tem fim: é processo contínuo. A cada rito, a cada reflexão, a cada silêncio vivido, algo é decantado e renascido. E é nesse labor invisível, repetido com ética e intenção, que a alma se afina com o sagrado.
Como os antigos alquimistas, que desenhavam símbolos misteriosos em seus grimórios (livros de magia), também o maçom deixa marcas em sua própria história. Marcas sutis, mas profundas — como as cicatrizes do fogo que transforma.
Pois o verdadeiro ouro alquímico é a consciência desperta. E o templo mais precioso é aquele que se ergue, em silêncio, dentro do coração do homem que escolheu trabalhar sua pedra.
Paulo C. T. Ribeiro
Psicólogo Clínico, Autor, Maçom

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